terça-feira, 22 de novembro de 2011

Desfiz os Nós


Era a primeira vez que ele escrevia um bilhete.
Vitória que adorava escrever bilhetes. 
Lucas, muso. Vitória, autora de Poemetos Neoconcretos Eróticos. 
Ele nunca confessou, mas adorava encontrar no bolso da calça, do casaco, da mochila, um papelzinho colorido com uma pitada de cheiro para mais tarde.
Mas também tinha medo.
Medo, que por um descuido, um bilhete que era seu, só seu, fosse parar na alma de um desconhecido. Ele tinha ciúmes.
Lembrar dos bilhetes, lembrar do medo, lembrar de Vitória.
Pegou um papel colorido na gaveta, uma caneta robusta e escreveu recado sincero:
  
Tirei a roupa. Despi-me completamente.
Desfiz os nós das amarras. Pulei.
O vento toca meu rosto, está quase suave.
A vida, neste instante, me faz um carinho bom
como se fosse meu primeiro grande amor.
Pude me dar conta que devo muito a você.
Não se preocupe, eu guardo bem as palavras.

Aproveite bastante o seu aniversário!


Um grande beijo,


L.

Agora teria que descobrir em que bolso colocar o papel.
Vitória não pendura mais seu casaco no hall da casa.

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